ALI

Na ressaca política de 2018, vários artistas sentiram a necessidade de sair do plano do discurso para ir à prática efetiva, organizando-se de diversas maneiras. Diante da profusão de crises políticas e sociais, esses artistas decidiram fazer uso da sua função social e da sensibilidade de captar a realidade de seu tempo para, juntos, propor outras alternativas de expressão, de espaços possíveis de atuação e de engajamento coletivo. Muitos dos pensamentos provocados por essa reação e pela revisão do lugar da arte e dos seus próprios agentes culturais refletem-se em atitudes perceptíveis a olho nu. O ALI (Arte Livre Itinerante) surge em 2019, num momento da história do Brasil em que a escalada do discurso de ódio, a legitimação da mentira e a precarização das formas de trabalho se somam às violações, cada vez mais frequentes, dos direitos e à restrição da liberdade.

O projeto foi esboçado ainda em 2018, quando um grupo de artistas decidiu se reunir para pensar criticamente questões e processos sociopolíticos do País. André Komatsu, Ana Prata, Ding Musa, Lucia Koch, Renata Lucas, Rodrigo Andrade e Sara Ramo são alguns dos integrantes do projeto.

O ALI é um projeto social nômade, voltado à educação de arte. Sem base fixa e modelo predefinido de atuação, o grupo transita e circula por comunidades, das periferias de São Paulo, estabelecendo conexões culturais e integração social com as atividades desenvolvidas no centro da cidade, alternando aulas presenciais e remotas. O local de partida foi a Cidade Tiradentes, extremo leste da capital paulista, onde ainda acontece a primeira edição do projeto, batizada de ALI:Leste. Devido à Covid-19, algumas dessas ações foram transferidas para o espaço virtual.

A meta do grupo é passar longas temporadas em diferentes bairros de São Paulo, enquanto a programação de atividades, compartilhada no seu perfil do instagram, é desenvolvida conforme as demandas do momento, convergindo com aquelas realizadas na região central da cidade. Neste sentido, cada ação tem algo da coletividade que a engendrou, além de trazer consigo desdobramentos socioculturais futuros. Desta maneira, as experiências vividas pelos participantes do centro e da periferia ampliam seus saberes ao aproximar as realidades dos públicos dessas duas regiões e fortalecer vínculos entre os indivíduos e o grupo.

 

ALI:Leste

Compreendendo a escola como lugar de troca e construção coletiva de conhecimento, o projeto ALI:Leste oferece, por meio da articulação e do mapeamento, ações contínuas com coletivos, artistas, movimentos e espaços culturais. O resultado deste trabalho conjunto aparece em cursos, encontros, manifestações públicas, grupos de pesquisas, exposições e visitas guiadas a ateliês e centros de artes. O incentivo à formação de novos grupos e ao fortalecimento de redes culturais também fazem parte dos objetivos do ALI.

Em 2020, diante da crise desencadeada pela Covid-19, as atividades presenciais, como Poesia Visual, organizada por Lucia Koch, e Desenho Corrente, com Ana Prata e Rodrigo Andrade, migraram para o ambiente virtual. A grade da programação do ALI:Leste para este ano conta, ainda, com encontros de pintura ao ar livre, também com Rodrigo Andrade.

Em parceria com coletivos e espaços culturais da região, o ALI:Leste gera fluxos de ações colaborativas e criativas que insistem em romper com o distanciamento social imposto pela segregação econômica e racial endêmica no Brasil. Alguns dos parceiros são Luau Raiz Quadrado, Instituto du Gueto, Pombas Urbanas, Centro Cultural Arte em Construção, Slam CT, Red7, Luau dos Loucos, Centro de Cultura e Formação Cidade Tiradentes, Casa de Cultura do Hip Hop Cidade Tiradentes e Coletivo de Esquerda Força Ativa.


 

Paisagem Projeto

Entre os projetos organizados na versão digital do ALI:Leste está o Paisagem Projeto, encabeçado pelos artistas André Komatsu e Ding Musa. A ação artística estreou em 2020 e em breve ocupará o espaço comum da comunidade. O curso é dividido em quatro módulos, com atividades teóricas e práticas, e usa a fotografia como ferramenta de reconhecimento do território, e essa compreensão da paisagem para incentivar a formação de uma consciência política do entorno.