APARELHAMENTO

 

Monumentificação do Ressignificado

 

Se é verdade que um país sem memória está destinado a repetir o seu passado, é dever contar aos mais jovens a nossa história e urgente rememorá-la aos mais velhos. É tarefa da arte, na esteira da revisão mundial dos símbolos escravocratas e coloniais, iluminar, pelo caminho do sensível, as fendas nos consensos aparentes, jogando luz sobre a história de violência e segregação incutidas nos memoriais e monumentos. Em Monumentificação do Ressignificado, o grupo Aparelhamento propõe a recontextualização das placas de memoriais de líderes genocidas, trazendo uma nova biografia.

Borba Gato

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Duque de Caxias

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Anhanguera

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O Carro do Ovo

 

De longe, escutamos: O carro do ovo quer saber: “Por que tinha 40 kg de cocaína no avião da comitiva de Bolsonaro?”. Esta e outras perguntas saem da caixa de som de uma van que percorre a cidade de São Paulo vendendo caixas com ovos de galinhas felizes e livres de cativeiro. Em tempos de isolamento e distanciamento social, o Carro do (P)Ovo, um trocadilho com a palavra “povo”, altera a percepção sonora dos ouvintes e provoca estados de alerta em torno dos crimes cometidos contra a sociedade brasileira. Em tempo: os ovos são também distribuídos (já cozidos) para a população de rua.

Ouça a poesia-pergunta de Antonio Marinho, poeta pernambucano de São José do Egito


 

Manuel Técnico


 

APARELHAMENTO

Créditos: Aparelhamento/divulgação


O Aparelhamento é uma rede de artistas e ativistas que surgiu em 2016, em reação ao golpe parlamentar que impactou e ainda impacta o Brasil hoje.

O grupo organizou uma exposição na sede da Funarte, em São Paulo, que reuniu mais de 200 artistas, arrecadando recursos para ações coletivas espalhadas pelo Brasil. A premissa básica de adesão ao Aparelhamento em sua formação vinha do reconhecimento de que a deposição da presidenta Dilma Rousseff foi um golpe de Estado apoiado pelo então vice-presidente Michel Temer.

As ações que se seguiram aos acontecimentos de 2016 foram se adaptando aos novos contextos. Em números, foram produzidas e/ou viabilizadas mais de 50 atividades, em cerca de sete Estados do País. Algumas destas ações se transformaram em infraestruturas para projetos permanentes, o que fez com que tivessem continuidade, seja de forma conjunta, seja de maneira independente.

Desde então, o coletivo segue fazendo críticas contundentes ao retrocesso cultural, social e político brasileiro, sobretudo desde a eleição de Bolsonaro. Com participação de mais de 150 integrantes, o grupo é uma confluência orgânica de artistas, que atuam em intensidades variadas, de acordo com as ações, contextos e momentos específicos.

Geralmente, manifestam-se em uma voz coletiva, sem identificar especificamente um ou outro membro. O grupo atua menos como um coletivo típico de arte, e mais como uma rede incentivadora de outras redes de colaboração, como forma de fortalecer outras iniciativas em formas de atuação conjunta.

Apesar das ações serem apartidárias, o grupo assume não ser “isento ou neutro” em relação às suas posturas ideológicas. Pelo contrário, adere explicitamente ao endosso a políticas públicas de apoio aos desfavorecidos, distribuição de renda e moradia digna, e de repúdio a práticas de violação dos direitos e a qualquer tipo de preconceito que desmereça o outro em razão de cultura, raça, etnia, religião, nacionalidade, língua, classe social, gênero e orientação sexual.

As urgências que caracterizam a derrocada recente da democracia no País e o recuo das conquistas sociais e culturais em seu conjunto, são fatores de agregação do grupo em propostas de continuidade de ações, presentes e futuras.

 

Ficha criminal 

Nome: Manuel de Borba Gato

Nascimento: 1649, São Paulo

Falecimento: 1718, Sabará

 

Alcunha
Borba Gato 

Cônjuge
Maria Leite, filha do também criminoso Fernão Dias Paes Leme

Ocupação
Caçador de indígenas, explorador de jazidas de prata e ouro.  Foi agraciado no fim da vida com o cargo de Juiz Ordinário. É conhecido por ser Bandeirante Paulista.

Acusação
Homicídio qualificado de negros, índios e brancos, promoção de trabalho escravo de negros e índios, estupro de mulheres negras e índias, apropriação indébita de riqueza e poder.

Em 1682, em Minas Gerais, matou numa emboscada um fidalgo, administrador geral das Minas, evadiu-se e ficou foragido até 1698, quando, em negociata, com a Coroa foi perdoado pelo crime e agraciado com o posto de lugar-tenente, em troca da localização de minas de ouro.  

Autor do monumento
Júlio Guerra

Localização: Avenida Santo Amaro, São Paulo.

Inauguração: 1962

 

 

 

Ficha criminal

Nome: Luís Alves de Lima e Silva
Data de nascimento: 25 de agosto de 1803
Falecimento: 7 de maio de 1880

Alcunha: Duque de Caxias, Patrono do Exército do Brasil

Profissão: militar do Império do Brasil

Acusação
Assassinato

Ocorrências
Luís Alves de Lima e Silva, também conhecido pelas alcunhas de Duque de Caxias e Patrono do Exército do Brasil, participou das principais revoltas ocorridas durante o Brasil Império e foi responsável por mais 100 mil mortes de cidadãos que lutavam por justiça, melhores condições de vida e um estado republicano. Pôs fim à revolta da Balaiada (1838-1941), no Maranhão, matando escravos, vaqueiros e a população menos favorecida. Por estes assassinatos, foi condecorado por D. Pedro II com o título nobre de Barão de Caxias.
Participou das Revoltas Liberais que ocorreram em São Paulo e Minas Gerais em 1842-1845. Também pôs fim à Guerra dos Farrapos, em 1835-1845, revolta republicana e separatista no Rio Grande do Sul, e à Guerra do Prata, em 1851-1852.

Participou da Guerra do Paraguai, o mais sangrento conflito armado internacional ocorrido na América do Sul, travado entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai), e que deixou um saldo de 3.120 mortos no Uruguai, 18 mil na Argentina e 50 mil no Brasil. A população do país adversário, o Paraguai, teve sua população masculina praticamente dizimada. Por esta carnificina, em 1869, o título de nobreza de Luís Alves de Lima e Silva foi alçado de Barão para Duque.

Autor do monumento
Victor Brecheret

Estátua em bronze e granito Mauá, retratando as batalhas de Duque de Caxias.

Localização: Praça Princesa Isabel, Campos Elíseos, São Paulo.
Inauguração: 25 de agosto de 1960

 

Ficha Criminal

Nome: Bartolomeu Bueno da Silva (pai)
Nascimento: data incerta de nascimento e morte
Nome: Bartolomeu Bueno da Silva (filho)
Nascimento/Morte: 1672 – 1740

Alcunha
Anhanguera — em tupi, significa diabo velho ou espírito maligno, tal eram suas personalidades genocidas e cruéis.

Ocupação
Caçadores de indígenas, exploradores de jazidas de ouro nos atuais Estados de Minas Gerais e Goiás. Conhecidos como Bandeirantes Paulistas.

Acusação
Homicídio qualificado de indígenas e negros, promoção de trabalho escravo de indígenas e negros; apropriação indébita de riqueza e poder. Formação de exército particular. O Anhanguera filho é responsável por dizimar, sem deixar vestígios, nem mesmo linguísticos ou arqueológicos, a tribo Goyá, que inspirou o nome do atual Estado de Goiás.

Autor do monumento
Luigi Brizzolara

Local
Av. Paulista, em frente ao parque Trianon, em São Paulo.

Inauguração
Encomendada pelo Governo do Estado de São Paulo, foi inaugurado em agosto de 1924 nos jardins do Palácio dos Campos Elíseos e transferido 11 anos depois para o atual local.