DENILSON BANIWA

 

Petróglifos na Selva de Pedra

 

Na produção de Denilson, dois trabalhos significativos, produzidos na cidade de São Paulo, são destaques desta mostra. Na intervenção Petróglifos na Selva de Pedra (2018), imagens criadas pelo artista são projetadas a laser em empenas da Capital. Para a exposição, Denilson fez um vídeo exclusivo sobre a obra. Confira abaixo.

Vídeo: Denilson Baniwa/divulgação

 


flashes in the sky of the memory

antes do mundo éramos todos bicho-gente
um planeta-comum para viver
e falávamos o mesmo idioma
humano, paca, anta, jaguaretê

antes do mundo existir
meu tio era sucuri
minha tia taóka
meu avô urubu-rei
minha avó poraquê
meu irmão era samaúma
minha irmã tauari
minha prima mandioca
meu primo buriti

a civilização branca
quebrou o ciclo que meu povo protegeu
pouco a pouco eu vi meu mundo ruir
hoje chamo atenção ao céu
onde as grandes árvores-mágicas
seguram histórias antigas
de quando elas alimentavam
as gentes-bichos do mundo
eu, você, eles, nós
o tempo das nossas avós
não mais em pedras escrevo estas histórias-ancestrais
com uma máquina-branca que aperta a luz e cria um foco
eu escrevo histórias do meu povo na selva de pedra urbana
e lembro da minha avó-gente
e lembro da minha avó-bicho
as duas revelo nos arranha-céus
pedindo aos brancos: olhem para o alto
onde ainda não alcançaram com seus concretos
olhem para os galhos das árvores-mágicas
que alimentam meu povo
desde quando o mundo ainda não existia

enquanto jogo o canhão de laser
que desenha histórias-quase-esquecidas
no meu fone de ouvido toca

reflex in the sky
warn you you’re gonna die

assim como nas minhas veias cabe
o sangue da minha avó-jaguar
e da minha avó-humana
entre meus petróglifos modernos
cabe também black sabbath

 

Brasil Terra Indígena

 

Em Brasil Terra Indígena (2020), a intervenção do artista ressignifica a simbologia do “Monumento às Bandeiras”, do escultor Victor Brecheret, que fica na região do Parque do Ibirapuera, na zona Sul da Capital.

DENILSON BANIWA

Natural da aldeia Darí, em Barcelos, no Amazonas, Denilson Baniwa é um dos expoentes da representatividade indígena na arte contemporânea. “Indigenizar” a noção da arte e levantar discussões acerca da preservação da memória, do meio ambiente e do patrimônio cultural e humano são questões que permeiam os processos de produção do artista.

Vencedor do Prêmio Pipa online em 2019, Denilson nunca teve pretensões de seguir uma vida de artista, mas sempre trabalhou com visualidades. Suas produções misturam diversas narrativas, trabalhando em diferentes suportes.

Gravuras, desenhos, pinturas e performances estão entre as linguagens trabalhadas pelo artista, que desmitificam o pensamento reducionista de que esses povos só criavam artefatos ou artesanato. No meio urbano, seus murais e lambes estão para além da arte de rua, simplesmente.

Para ele, a obra inserida na paisagem da cidade é meio para transmitir mensagens de discursos indígenas e romper com estereótipos limitadores. Os trabalhos públicos do artista, que ganham dimensões em escala urbana, não são somente instrumentos artísticos, mas, sim, ferramentas de reprodução em massa de questões do movimento indígena.

O artista é também um dos idealizadores da Rádio Yandê, a primeira rádio indígena do País, que tem como objetivo a difusão da cultura indígena através da óptica tradicional, mas agregando a velocidade e o alcance da tecnologia e da Internet.