GISELLE BEIGUELMAN

 


Monumento Nenhum e Chacina da Luz


 

Monumento Nenhum

 

O Beco do Pinto, antiga passagem entre o Solar da Marquesa de Santos e a várzea do rio Tamanduateí, que hoje liga as ruas Roberto Simonsen e Bittencourt Rodrigues, abrigou a instalação feita com pilhas de bases, pedestais e fragmentos de monumentos que se encontram no depósito do Departamento do Patrimônio Histórico, no bairro do Canindé, em São Paulo. Num momento de revisão dos memoriais, urge levantar questões sobre patrimônio histórico, arte e cidade, e a permanência ou não desses monumentos, estátuas e bustos em espaços públicos. 


 

Chacina da Luz

 

Em 2016, oito esculturas do século XIX que circundavam o Lago Cruz de Malta, no Jardim da Luz, foram depredadas e armazenadas na casa do administrador do parque. O episódio serviu de gatilho para a artista iniciar o processo de pesquisa e produção da instalação, alavancado pelo acesso ao laudo policial e à situação indigente dos fragmentos das esculturas. A obra foi montada no edifício Solar da Marquesa, sede do Museu da Cidade de São Paulo e considerado o último exemplar remanescente da arquitetura residencial urbana do século XVIII.  


GISELLE BEIGUELMAN

Foto: Jorge Lepesteur/divulgação


 

Artista consagrada em arte e mídias digitais, Giselle desloca seu olhar para questões sobre patrimônio histórico depois de participar da 3ª Bienal da Bahia, onde fez pesquisas no arquivo histórico daquele Estado. A artista atua também como curadora e é professora Livre-Docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). 

Nos trabalhos apresentados nesta exposição, a artista reabre o debate sobre o esquecimento do espaço público e a relação da cidade com o seu patrimônio histórico e cultural. As obras Monumento Nenhum, no Beco do Pinto, e Chacina da Luz, no Solar da Marquesa de Santos, exibidas em 2019 no Museu da Cidade de São Paulo, são reflexos desta discussão que reacende também o debate sobre o abandono da capital cultural do País. Compostas por fragmentos de monumentos, as instalações reproduzem a situação das peças tal qual foram encontradas nos depósitos do DPH-SP, como uma espécie de ready-made do esquecimento. Em conjunto, as duas instalações invertem o lugar da arte no campo das políticas públicas de memória. Ao invés de ser seu objeto, a arte, aqui, pensa estas políticas, sugerindo uma reflexão sobre a produção social das estéticas da memória e da negligência no espaço público.