XILOCEASA
Integrantes do coletivo Xiloceasa. Foto: Xiloceasa/divulgação
O grupo Xiloceasa é formado por 14 artistas, sendo a grande maioria filhos de nordestinos, que moram em comunidades no entorno do CEAGESP e que encontraram na madeira sua forma máxima de expressão. O grupo estuda e trabalha há quatorze anos nos ateliês do Instituto Acaia, criado em 2001 pela artista plástica Elisa Bracher. Atuando como arte-educadores e formadores, desenvolvem ações educativas com crianças e jovens, em diversos contextos de aprendizagem. Destacam-se: Queens Park Community School, em Londres, unidades do SESC, Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo e as próprias comunidades onde vivem. Além do trabalho de formação, sua produção de publicações tipográficas artesanais, envolvendo parcerias com autores renomados como Alice Ruiz, Arnaldo Antunes, Fabrício Corsaletti e Luiz Ruffato, ganhou espaço nas feiras de arte impressa. Na exposição COMUNA SP, apresentamos os trabalhos de João Amorim, Beatriz Lira, Fernando Mariano, Ramon Santos e Luiz Lira. As xilogravuras reunidas na coletiva representam a relação dos artistas com a cidade de São Paulo, a paisagem urbana e suas memórias vividas, levantando questões sobre gênero, negritude e ancestralidade.
João Amorim
“Este trabalho tem como principal objetivo representar, de uma forma simples, parte da história da cidade de São Paulo. A construção desta imagem nasce a partir da vivência de meu pai, Adão Porto, durante a década de 1980, onde as casas se transformavam em prédios, as árvores eram trocadas por postes e a vida se tornava mais estressante. O Fusca, que ainda hoje é admirado por muitos brasileiros, apresenta-se como elemento central, pois era o automóvel que todos queriam. Quero que este trabalho suscite a lembrança de como um dia essa cidade já foi: mais calma, limpa e bela.”
Sem título
São Paulo, SP, Brasil, 2021
Xilogravura sobre papel: 19,8 x 28,8 cm
Papel Pólen Bold, 90 g
Foto: Xiloceasa/divulgação
Beatriz Lira
“A cidade está para além de sua paisagem. Sua essência é formada por indivíduos que possuem diferentes características, que compõem sua subjetividade e que refletem isto no espaço em que habitam, constituindo, assim, o espaço. Posto isto, as seguintes obras retratam esse ser, principalmente feminino, que representa a diversidade física e cultural na cidade.”
Sem título
São Paulo, SP, Brasil, 2018
Xilogravura sobre papel: 65 x 45 cm
Papel Pólen, 90 g
Foto: Xiloceasa/divulgação
Sem título
São Paulo, SP, Brasil, 2018
Xilogravura sobre papel: 65 x 45 cm
Papel Pólen, 90 g
Foto: Xiloceasa/divulgação
Fernando Mariano
“Este trabalho, ‘Flores e a Favela’, é uma representação (na visão do artista) de como a favela se encaixa no resto da cidade, até mesmo a parte burguesa que se diz bonita (“flores”). Do ponto de vista normal, podemos ver a contrastante desigualdade; já, no olhar do artista, enxergamos uma riqueza de detalhes, complementos, luzes e cores.”
Flores e a Favela
São Paulo, SP, Brasil, 2019
Xilogravura sobre papel: 79 x 13 cm (matriz perdida)
Papel Pólen, 90 g
Foto: Xiloceasa/divulgação
“O trabalho ‘Forjados’ se baseia em acontecimentos que ocorrem dentro das favelas da cidade de São Paulo e narra a visão dos artistas em um episódio do seu cotidiano. Na gravura, podemos ver o pai de família trabalhador, estudantes, traficantes e usuários, algemados e multados dentro de um espaço pequeno. Todos subjugados e covardemente maltratados. Uma história real sobrepondo uma favela amarela ao fundo.”
Forjados
São Paulo, SP, Brasil, 2018
Xilogravura sobre papel: 54,5 x 39 cm
Papel Filtro, 120 g
Foto: Xiloceasa/divulgação
Ramon Santos
“Pintura feita pensando nas árvores, postes e cabos de energia que se encontram na cidade. Os cabos de energia representam a conexão de todas as diversas moradias da cidade. Já a árvore simboliza a conexão com a Natureza. Quando estas duas alegorias, de profunda necessidade para a vida do ser humano, se encontram, entram em conflito: ou o ser humano derruba a árvore ou as raízes da árvore derrubam o poste.”
Sem título
São Paulo, SP, Brasil, 2021
Acrílica sobre papel, 56 x 38 cm
Papel cartão, 65 x 47,5 cm
Foto: Xiloceasa/divulgação
Luiz Lira
“Este trabalho surge após uma visita ao ateliê do amigo Santidio Pereira, onde fomos até uma floricultura próxima. Lá pude perceber — e colocar em prática — a ligação com a terra que tenho. Creio que andar descalço sobre a terra nos coloca enraizados com o natural, da mesma forma que, ao trocarmos a terra molhada por asfalto seco, nos propõe a ausência de algo. A intenção desta composição é nos direcionar para a necessidade de conviver com mais plantas, árvores e animais. A criança que carrega sua muda é a personificação do cuidado e a mais profunda conexão com o viver. Perdemos isto com a vinda da cidade.”
Sem título
São Paulo, SP, Brasil, 2020
Xilogravura sobre papel,
Papel Pólen Bold, 90 g
Foto: Xiloceasa/divulgação
“O sentimento que esta composição me traz é o de sufoco advindo das densas camadas de ‘proteção’ que a cidade grande nos impõe. O padrão geométrico, aqui aplicado em primeiro plano, pode ser visto como pequenas aberturas de ar que oxigenam o animal centralizado na xilogravura. Este animal é Frida, minha cachorra, que compartilha do confinamento e isolamento por que passamos. Assim como o vermelho, que traz de bagagem um sentimento de aconchego e força em resistir, a presença do roxo agarra todas as margens, criando grades de controle. Quem tem raízes no Nordeste e vive em uma cidade como São Paulo, traz em sua cabeça uma ambiguidade de sentimentos por esta terra batida e sobreposta por concreto.
Sem título
São Paulo, SP, Brasil, 2020
Xilogravura sobre papel,
Papel Pólen Bold, 90 g
Foto: Xiloceasa/divulgação