COMUNA SP

A cidade reproduz em seu traçado as contradições e os conflitos vividos por seus moradores. A complexidade do ambiente, por si só, impõe o questionamento do modo como se realiza a vida do conjunto da sociedade, na permanente tensão entre as vozes eclipsadas, segregadas a recônditos do espaço urbano, e a esfera privada, que, de inúmeras maneiras, apropria-se de territórios comuns. A arquitetura e o urbanismo podem atuar como instrumentos de descentralização do poder e ferramentas de luta pelo direito de ocupação da cidade por aqueles que são, sistematicamente, empurrados para a periferia do poder. A realidade é desafiadora e reclama transformação. O momento é propício para fomentar debates sobre práticas e políticas que permitam a participação de todos.

O atual cenário de incertezas, marcado por uma crise sanitária e humana de proporções mundiais, à qual se somam constantes ameaças à democracia, pôs às claras a imensa disparidade de condições de uso e direito à cidade. O momento crítico e o temor de potencial revolta popular fazem aumentar o controle e o cerceamento da liberdade de expressão, duramente reconquistada depois de 20 anos de ditadura militar.

A partir de três eixos conceituais -- Patrimônio e Identidade, Resistências e Invisibilidades, Futuros Possíveis -- definidos pelo III Festival A Cidade Precisa de Você, fizemos o trabalho de prospecção de artistas do território nacional que tenham trabalhos relacionados com a cidade de São Paulo. A coletiva COMUNA SP é uma amostra de um movimento genuíno de leitura do contemporâneo, que emerge para indicar caminhos sobre debates do presente e levanta questões sobre modos de experimentação estética e ressignificação da arte e de suas condições de possibilidade, para além do sentido estético e convivendo com várias manifestações.

Cabe aos artistas, aos agentes da cidade e às ações colaborativas provocar um posicionamento sobre a realidade e convocar o público ao diálogo e à ação política, para além da atitude contemplativa.

Giselle Beiguelman, Denilson Baniwa, Aparelhamento, ALI (Arte Livre Itinerante) , Nós Artivistas, Xiloceasa, Jamac, Fumaça Antifascista, Lala Terrível, Eneri e Loba Gi são parte deste movimento.

A mostra explora diferentes linguagens e narrativas para trazer debates atuais e discussões formais, reconectando os espaços públicos da cidade, a população, os agentes culturais ativos e suas inúmeras potencialidades. O ambiente virtual também serve de lugar de ação e apoio para as manifestações.

Lugar estratégico de ação

As cidades são incubadoras de manifestações artísticas e palco do exercício experimental da liberdade. O espaço público, onde se desenrola a vida dos moradores da cidade, com suas idas e vindas, e a paisagem urbana viram inspiração e suporte para obras transformadoras de percepção.

Em tempos de Covid-19, o espaço digital abrigará o III Festival A Cidade Precisa de Você e será plataforma para esta exposição, possibilitando um tipo de experiência artística que só se consolida com a participação do(a) receptor(a) - seja pela interação, seja pela contemplação.

O III Festival A Cidade Precisa de Você torna-se espaço público que predispõe à reflexão da arte contemporânea, como um laboratório experimental, estimulando a construção de um olhar atual para re-visar o sistema da arte, apresentando novos espaços possíveis de atuação e posição. A exposição virtual busca traduzir a imagem viva da efervescência do meio artístico.

Laura Rago atua como curadora e jornalista de arte.